quinta-feira, 24 de maio de 2018

Novo elemento no lar. Ciúmes na mascote?


Quantas vezes ouvimos, até pensamos, que o nosso animal de companhia pode estar com ciúmes, pelo facto de passarmos a repartir a atenção e cuidados com mais um elemento na casa, seja ele humano ou não?

Ora, embora uma nova presença no lar possa desencadear no nosso animal de companhia uma reação adversa como perda de apetite, medo, ansiedade, etc, não é por certo devido a ciúmes (sentimento de humanos) mas sim por outros fatores, como sentimentos de ameaça territorial, de partilha de recursos (comida, atenção do tutor, …) e sobretudo por um deficit na fase sensível da socialização da mascote.  


Então como contornar este problema?

Deve evitar-se o seu aparecimento. Para tal é fundamental uma adequada socialização na altura mais sensível da mascote, ainda muito jovem, onde se estabelecem os primeiros vínculos, relacionamentos sociais e em que todas as experiências são determinantes para o padrão de comportamento no adulto. O facto de familiarizarmos desde cedo a mascote com aquilo que fará parte do seu futuro, minimizará situações de stress como esta que descrevo. 

Mesmo assim devemos seguir protocolos de apresentação de novos elementos em casa:
-Atempadamente promover um ambiente de adequada feromonoterapia;
-Apresentar, em ambiente relaxante, odores e sons característicos do futuro “intruso” e aplicar reforço positivo;
-Tentar manter as rotinas da casa e da mascote com a chegada do “hospede”;
-Por último apresentar diretamente, de forma suave, o novo elemento sempre com reforço positivo (um afago, biscoito e ou brinquedo favoritos e incentivos verbais). Nunca esquecer a vigilância, em particular se temos a entrada de bebés de qualquer espécie, em particular da nossa, cujo comportamento pode não ser de imediato descodificado pelo nosso animal de companhia, principalmente se houve falhas a este nível na sua fase de socialização. 

Mais uma vez insisto na frequência de Puppy e Kitten Classes de modo a prevenirmos esta e muitas outras situações. 

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Hipertensão nos animais de companhia, uma doença escondida…

Genéricamente a hipertensão arterial deve-se a um aumento persistente da pressão arterial sistólica ou seja, quando o coração bombeia o sangue pelas artérias e a pressão exercida contra as paredes destas está constantemente aumentada.
Por norma esta doença é silenciosa, só apresentando sinais visíveis ao tutor quando já temos lesões nos órgãos alvo. Assim, é importante medir precocemente e com regularidade a pressão arterial nas nossas mascotes (preventivamente, uma vez por ano a partir da idade adulta).


Quais os orgãos mais suscetíveis a sofrerem lesões?

Serão todos os mais irrigados e claro está, todo o sistema cardiovascular devido ao aumento constante da resistência dos vasos sanguíneos. 
São exemplos os rins, o cérebro, o coração e os olhos.

Quais os sinais mais frequentes:

-Alterações na função renal, com perda de apetite, vómito, sinais laboratoriais (aumento da cretinina sérica,  proteinúria, anemia,…);
-letargia, cansaço (sopro cardíaco, arritmias, …);
-Alterações na visão (retinopatia hipertensiva, até cegueira em casos mais graves);
-Encefalopatia hipertensiva com sinais neurológicos como andamento descoordenado (atáxia), mudanças comportamentais, convulsões até coma.   


terça-feira, 24 de abril de 2018

Como atuar quando a mascote fez asneira?

Buracos no jardim, sapatos roídos, cocós onde não era suposto, tudo espalhado,… é um cenário frequente que quem tem animais de companhia, em particular cachorros, encontra ao chegar a casa.

A tendência será agir mostrando má cara e dando uma boa repreensão para que não haja próxima vez.

Ora, o nosso animal de companhia não tem desenvolvida a sua “memória semântica” e o relacionamento temporal causa/efeito é imediato, ou seja, quando lhe ralhamos: “Olha o que fizeste! Isto não se faz!” ele apenas vai ficar assustado, ou até entusiasmado com a nossa atenção, não conseguindo entender o nosso ralhete e muito menos associá-lo aos disparates que fez durante o dia.

Também não se pense, que quando ele chega perto de nós com as orelhas para trás e a cauda entre as pernas é porque sabe que fez asneira…O que acontece é que ele vai antecipar a resposta de medo ao nosso comportamento (repetido “n” vezes) e claro, como ralhamos sempre junto ao disparate, ele tende a associar que é para repetir.



Então o que fazer?

-Ignorar o sucedido e agir como se estivesse tudo bem; 
-Não limpar, compor ou arrumar na frente da mascote (também aprende por imitação, podendo entender por ex que o sapato roído é mesmo para brincar);
-Nunca usar aversivos (empurrões, puxões,…).Não deve aprender por medo, mas sim com confiança no tutor (o medo leva a ansiedade, que por sua vez pode conduzir a agressividade);
-Fazer treino de comportamentos desejáveis (sempre com reforço positivo);  
-Fazer enriquecimento ambiental de modo a promover um correto entretenimento (ex: brinquedos interativos, atividades de tempos livres);
-Promover exercício físico;
-Ter uma boa dose de paciência e ser muito persistente.   

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Urinar e defecar no local certo

O que à partida pode parecer impossível de aprender é na realidade bem mais fácil se compararmos connosco, ser humano, que chegamos a andar e falar ainda com fralda…
Se tudo for feito corretamente, de forma paciente, persistente e coerente, numa semana o nosso cachorro pode aprender a fazer no sítio certo:

1º Comece por lhe mostrar o local onde quer que elimine logo que ele acorda, depois de brincar e, muito importante, depois de comer;

2º Recompense-o com alimento próprio e uns afagos sempre que fizer no local desejado;

3ª Por norma o cão prefere uma superfície absorvente para urinar e defecar. Numa fase inicial, retire tapetes e carpetes do pavimento e revista a zona que quer como WC com resguardos ou jornais. Gradualmente vá reduzindo o espaço ocupado por esse substrato, mantendo-o limpo, sem no entanto eliminar por completo a “lembrança” de zona sanitária. Tem ainda a vantagem de poder levar consigo esse revestimento “sanitário” e permitir à mascote uma fácil associação em qualquer local.

Existem outras técnicas e dicas que recomendo serem demonstradas por treinador devidamente formado (escola de reforço positivo). 
Só um ex: 

-Se por algum motivo a mascote não aprende ou desaprende e faz no local errado, nunca lhe bata ou esfregue o focinho nas dejeções (não vai conseguir associar o castigo ao erro…). Também não limpe à sua frente (por “imitação" pode começar a espalhar as fezes ou a ingeri-las). O melhor é ignorar, limpar o local com detergente neutro e depois aplicar um repelente adequado. Se ainda assim continuar a eliminar nesse local, transforme-o num ponto de comida, por norma a mascote não gosta de eliminar onde come. 

quarta-feira, 28 de março de 2018

O que não deve falhar no 1º ano de vida

Para termos adultos, cão e gato, equilibrados e saudáveis é determinante que durante o 1º ano de vida, se tenha especial cuidado com: 
-Estar bem informado sobre o etograma (comportamentos típicos e que promovem bem-estar) de cada animal, de modo a reunir condições para permitir a sua expressão. Por ex.: se não pretende optar pela esterilização, deve ser tolerante perante demonstrações de comportamentos sexuais (vocalizações excessivas, acentuada marcação territorial, comportamentos de monta, …). Neste exemplo, a recomendação da esterilização tem até vantagem no prolongamento da esperança média de vida da mascote se realizada precocemente;
-Promover experiências sociais e ambientais o mais aproximadas possível da realidade que viverá em adulto. Muito importante incentivar desde cedo uma adequada socialização. A frequência de uma Puppy Class (aulas para cachorros) ou Kitten Class (aulas para gatinhos) pode ajudar muito. Insistir na educação e treino é fundamental para potenciar um bom relacionamento interespécie;
-Alimentação de elevada qualidade adequada à espécie, raça, faixa etária, condição de saúde;
-Planos de vacinação e desparasitação de acordo com a legislação em vigor, atuais guide lines científicas e em consonância com o estilo de vida da mascote (se estritamente indoor, se vai ao exterior com frequência, se fica regularmente em gatís ou canís, …). Obrigatório, até porque pode evitar muitos dissabores, é também identificar devidamente a mascote (microchip);

-Iniciar uma regular higiene corporal, seja com banhos sempre que necessário ou escovagens, assim como uma boa higiene oral, usando snacks que cuidam dentes e gengivas e/ou habituar a escovar dentes com pasta dentífrica própria para cão e gato.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Leishmaniose, a nossa realidade



A leishmaniose é uma doença causada por um protozoário, Leishmania, transmitido através da picada de um inseto, Phlebotomus, parecido com um mosquito muito pequeno (2 a 3mm), e que se estima ter elevada prevalência na população canina do nosso país.

Em Viseu, Seia e Oliveira de Frades continuamos a ter registos desta doença! (Dados de clínicas/hospital do Grupo HVV).

É preciso ter em conta que a leishmaniose ainda não tem cura, embora já a consigamos transformar numa doença crónica que, com cuidados de medicação e vigilância para toda a vida, pode inclusive ficar assintomática.

A prevenção é o ponto chave!

Até há bem pouco tempo, era bastante mais complicado evitar esta doença.
Hoje em dia, temos ao dispor vários produtos com ação repelente do inseto transmissor e o mais importante é que podemos fortalecer o sistema imunitário do nosso cão especificamente contra esta doença.
O mais recente avanço está na área da imunologia, mais precisamente numa vacina que em apenas uma dose de primovacinação induz proteção de cerca de 72% ao fim de 28 dias, não estando descritas quaisquer reações vacinais com significado clínico. Da nossa experiência podemos afirmar que das 107 administrações, desta nova vacina, que fizemos no último ano, apenas tivemos um caso de prurido passageiro (segundos) no local da inoculação.
Importa também referir que o custo desta primovacinação é substancialmente menor do que o custo usando a outra vacina existente, em que são precisas três doses de primovacinação.
Ter também presente que devemos associar sempre um desparasitante externo cujo espectro de ação abranja o flebótomo. Podemos ainda usar uma solução oral, também ela estimulante do sistema imunitário, que obedece a requisitos específicos de utilização (toma diária durante 2 meses do ano: junho e outubro).

quinta-feira, 1 de março de 2018

Agressividade por dominância no cão?


Estudos relativamente recentes demonstram que a teoria do “cão agressivo por dominância” está errada!

A ideia de que o nosso cão quer “mandar lá em casa” cai por terra quando se prova que nem nos lobos (de onde o cão descende e se fazem analogias comportamentais) isso acontece, tal como não acontece em cães assilvestrados (errantes ou vulgarmente chamados “vadios”). 

O cão apenas mostra preferencia por determinado recurso (comida, tutor, sofá, objeto, …) e “graças” à nossa ideia pré concebida de que “ele já está a caminho de concretizar o seu plano de líder”, vamos agir coercivamente  e “mostrar-lhe quem é que manda”.

É claro que começamos logo mal. O risco de provocarmos medo ou ansiedade é muito alto, o que poderá potenciar comportamentos verdadeiramente indesejados comprometendo o bem-estar de todos.

É muito importante perceber desde cedo como pensa e age o cão. Engane-se quem pensa que o cão nos vê como mais um da matilha e nunca assuma que ele pensa como nós. “Eles não têm maldade, não fazem nada para se vingarem e muito menos estão interessados em serem os chefes lá de casa”. 

Por muito que ao ler este texto tenda a pensar o contrário, pois há todo um peso cultural erradamente instituído e cultivado por programas televisivos, literatura que ainda circula e treinadores menos atualizados, pode ter a certeza que se temos agressividade no nosso cão, não será recorrendo a técnicas coercivas que a vamos anular.

À partida (ainda sem problemas comportamentos) há de facto cães mais ou menos confiantes e cães mais menos educados. 
O grande problemas somos nós, seres humanos, que tentamos educar sem termos adequada formação, podendo mesmo induzir problemas em vez de soluções, sendo que o ideal é  fazermos uma boa prevenção.


Recomendo mais uma vez a frequência de locais onde se ensina recorrendo a técnicas de reforço positivo e onde a metodologia de trabalho seja clara e devidamente fundamentada.