quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Animais de companhia | doenças : alguns mitos e verdades

Apesar de toda a informação que nos chega e da que está ao alcance de um click, continuo a ouvir dúvidas e preconceitos de há 20 anos atrás…
“Estou grávida e por isso tenho de me desfazer do meu gato” 

Erro! Bastam os mesmos cuidados que deveria ter antes ou seja: boletim sanitário em dia, alimentar corretamente, limpar o “WC” do gato diária- mente e lavar as mãos no fim. 
Se o receio for a toxoplasmose, este só se coloca se tocarmos com as mãos nas fezes com o “toxoplasma gondii” na forma infetante e se as levarmos à boca... ainda assim a possibilidade de gatos indoor estarem infetados é muito baixa, uma vez que a principal via para contraírem a doença seria através da ingestão de roedores e aves. Para dificultar  mais a possibilidade de nos infetarmos, a forma em que este parasita é eliminado só é infetante após cerca de 24h ( reforço a limpeza diária e que o gato tanto aprecia!). Mais e em jeito de confidência: “não sou imune ao toxoplasma, tive 3 filhos, sempre a trabalhar e a conviver com todo o tipo de animais de companhia…”;

“Não posso ter gatos, sou alérgico a pelos”.

Erro parcial! Podemos ser alérgicos sim, mas a uma proteína da saliva. É certo que os gatos lambem-se e por isso podem depositar esta proteína na pelagem. Para contornar este problema, (enquanto não vamos a um imunoalergologista tratar –nos...),  habituemos o gatinho ao banho usando champôs específicos. Devo dizer ainda que há estudos indicadores de benefícios, também ao nível do aparelho respiratório,  em crianças que crescem com animais (são mais saudáveis e apresentam menos infeções respiratórias).
Mais exemplos poderia escrever, em todo o caso saibam que de um modo geral os parasitas, bactérias e vírus das nossas mascotes “gostam” particularmente delas e só erraticamente (casos de excesso de carga parasitária, contacto muito estreito e sem o mínimo de higiene, pessoas imunodeprimidas) é que poderão passar para nós. 

 Dra. Isabel Maia
Médica Veterinária
Grupo HVV – Hospital Veterinário Viseu

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Porventura, o animal de companhia mais misterioso e incompreendido...

Odiado por alguns e cada vez mais amado por muitos, chegou a altura de escrever sobre ele.
Diria para já que é um animal subtil, astuto e altamente influenciador do seu tutor.
Tenho testemunhado como clínica e também como sua tutora, o poder que têm: é mais fácil o seu tutor aderir a planos de tratamento ideais, do que por ex. o tutor do cão; mais rapidamente nos vemos a satisfazer alguma vontade sua do que uma nossa, já para não falar da tolerância em relação a algum comportamento que  nos desagrade…

Não podemos dizer que não gostamos dele sem verdadeiramente nunca termos tido um!

Desde a antiguidade que se conhece a sua aliança com o Homem: o afastamento de pragas, a proteção de alimentos, a companhia e por certo inspiração  de grandes Homens da filosofia, pintura, ciência, cinema, literatura... aos quais devemos muitos dos avanços como civilização moderna.
É curioso, no entanto, o desconhecimento sobre as suas necessidades mais básicas: colocamos água e comida lado a lado com o seu WC  bem perto, e para “arrumar” tudo em beleza juntamos a sua cama... Culminamos o nosso “jeito” para ele, aplicando-lhe uma coleira com um gizo “oferecendo” aviso às suas presas...Que frustrante deve ser para quem tem nos seus genes um marcado comportamento de caça, precisando de o expressar para estar em equilíbrio, e não o pode manifestar corretamente, pois o silêncio seria chave no sucesso das suas emboscadas!

Já todos descobriram que me refiro ao admirável gato!

Para além das meiguices e de todos os seus benefícios, para mim, viver com um gato é ter um pouco da terra berço, um pouco de África, um pouco do ambiente das esperas/emboscadas de caça, da calma das savanas com longas sestas... Sejam pretos, brancos, laranjas, tigrados... eles são de facto belos e misteriosos tendo como que um poder sobre nós, humanos, capaz de nos devolver à mãe Natureza com a sua simples presença...

 Dra. Isabel Maia
Médica Veterinária
Grupo HVV – Hospital Veterinário Viseu

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Sinais de stress no gato

De há alguns anos para cá, por múltiplos motivos, o gato tem sido cada vez mais escolhido como animal de companhia, em particular nos grandes centros urbanos. De um modo geral é  mais pequeno, “limpo”, “autónomo”, económico, ... O que é certo, é que já quase iguala o cão como animal de companhia predileto! 

O gato é uma espécie extremamente exigente!

No entanto, o gato não cedeu tanto à domesticação como o cão e tem necessidades muito especificas para estar em equilíbrio. Desde o espaço organizado à sua maneira (comida afastada da água; “wc” bem isolado e de preferência só para uso “pessoal”; local de descanso preferencialmente em altura e sossegado; ...), aos rituais de “lavagem”, “caça”, alimentação, eliminação, ... , o gato é uma espécie extremamente exigente! É pois relativamente frequente encontrarmos na consulta felinos com sinais de stress, muitas vezes já somatizando em forma de doença, que nos obrigam a um trabalho de sensibilização dos tutores, para estarem atentos a todos os subtis sinais que estes seus companheiros podem dar:


-Marcação exagerada com arranhões verticais;
-Marcação com urina (em locais inapropriados);
-Self – grooming (limpeza/lavagem) excessivo;
-Infeções/afeções urinárias, vulgarmente designadas por cistites;
-Perda de apetite (hipo ou mesmo anorexia);
-Perda excessiva de pelo (alopecia);
-Repetidos conflitos entre gatos;
-Aumento de peso significativo, chegando mesmo à obesidade;
-Vómito recorrente;
...
Muitas pessoas optam por um gato, como animal de companhia, por acharem que este não precisa tanto de atenção e cuidados. Tenhamos presente que se não oferecermos um mínimo de condições, para que o gato possa expressar os comportamentos que o mantêm saudável (comportamentos característicos do seu etograma), mais vale não embarcarmos na fascinante aventura de optar por este felino como companheiro!

 Dra. Isabel Maia
Médica Veterinária
Grupo HVV – Hospital Veterinário Viseu