quinta-feira, 30 de agosto de 2018

A minha mascote coça-se…O que faço?


O prurido nos nossos animais de companhia pode ser realmente muito aflitivo e é motivo de muitas consultas.

Partindo do princípio que o básico está controlado (boa desparasitação, alimentação adequada e cuidados de grooming assim como uso de bons produtos para banhos e escovagem), “resta-nos” um enorme leque de possibilidades relacionadas com fatores genéticos e ambientais que predispõem à já tão famosa dermatite atópica.

É fulcral tentar eliminar a causa da comichão, mas mais importante no imediato é mesmo eliminar esse prurido, de modo a preservar a barreira cutânea e melhorar a qualidade de vida da mascote.
Felizmente temos ao dispor fármacos que atuam eficazmente no controlo desta sintomatologia tão incomodativa, mas é imperioso que cheguemos, tanto quanto possível, à etiologia de modo a prolongar os períodos de remissão de manifestação da doença (ter em atenção que a dermatite atópica tem um curso de cronicidade, ou seja, poderá reaparecer sintomatologia ao longo da vida de forma mais ou menos intensa). 

Por norma a abordagem à dermatite atópica é multimodal e individualizada. A escolha do melhor controlo para cada caso deve ser feita de modo bastante criterioso. Devemos ter em conta a predisposição racial, o ambiente onde vive, a dieta, a mais adequada desparasitação, uma eventual suplementação para reforço da barreira cutânea, cuidados de grooming com os produtos mais indicados, o controlo das infeções secundárias, a avaliação comportamental (a ansiedade pode potenciar o problema e vice-versa), no entanto volto a frisar que de imediato devemos fazer tratamento sintomático de controlo do prurido de modo a promover o bem-estar do nosso animal de companhia.  


Perante um quadro como o descrito e depois de descartado o básico, é sem dúvida indicado recorrer ao seu médico veterinário.   

sábado, 18 de agosto de 2018

Socializar não é “inundar”

A ideia de que socializar os nossos animais de companhia, em particular os mais representativos—cão e gato—é muito importante, parece estar já bem presente na nossa sociedade. 

No entanto, as formas pelas quais se promove a socialização é que podem não ser as melhores…
Pensar que o nosso cão ou gato devem ser expostos a todo e qualquer estímulo/ambiente, em qualquer idade e sem cuidados específicos, pode surtir efeito oposto ao pretendido!

Existem períodos chave e métodos cientificamente comprovados para que o processo de socialização decorra com maior sucesso. Nos cães e nos gatos estão definidas alturas mais propícias para lhes “apresentar o mundo” de forma natural e positiva:
-Nos gatos temos a idade entre as 2 e as 10 semanas (podendo nalguns casos estender-se um pouco). Como na maior parte das vezes, nesta altura, os gatinhos ainda estão com a progenitora (não devem ser adotados antes das 8 semanas) torna-se muito estreita esta janela de maior potencial de socializar, sendo importantíssimo aproveitá-la ao máximo;
-Nos cães a fase mais sensível da socialização inicia-se por volta das 3 semanas de vida e pode ir até às 14 a 16 semanas (ter em conta o desenvolvimento de cada raça). Também aqui é vital para o bom desenvolvimento a adoção só depois das 8 semanas de idade, sendo que até aí o cachorro deve permanecer com a progenitora e irmãos.

Existe informação e meios, já bastante atualizados, sobre os “rituais” de apresentação a estímulos, ambientes, outros animais intra e extra espécie, que nos permitem operar com mais rigor nestas idades tão fáceis de “moldar para bem e para mal”…
Sem dúvida que recomendo a frequência de uma Puppy Class (aulas para cachorros) ou de uma Kitten Class (aulas para gatinhos) com ganho de aprendizagem também e muito para os tutores. Reforço que socializar é preciso durante toda a vida, mas é fulcral começar cedo para termos adultos equilibrados. 

Para terminar, socializar não é “inundar” o nosso cão ou gato com estímulos/experiências, o que inclusive os pode traumatizar, mas sim apresentar-lhes esses mesmos estímulos/experiências de forma cuidada, segura e muito positiva, tendo sempre em conta as particularidades/sensibilidades de cada indivíduo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A obesidade continua a não ser vista como uma doença…


É de facto preocupante a quantidade de animais com excesso de peso que entram nos consultórios.
Estima-se que 1 em cada 3 cães e 3 em cada 10 gatos apresentam excesso de peso! É muito difícil fazer ver aos tutores que estamos perante uma ameaça concreta ao bem-estar da sua mascote, com risco de evoluir para uma situação de obesidade que é, por si só, uma doença com severas consequências, diminuindo significativamente a qualidade e esperança de vida. 

É preciso ter consciência que a obesidade é mesmo uma doença, sendo causada pelo desequilíbrio entre o consumo energético (alimento em excesso ou muito calórico) e o gasto energético (falta de atividade física). 

Tal como no ser humano, os quilos extra são prejudiciais para a saúde dos nossos animais, podendo levar a:

-Doenças osteoarticulares (osteoartrite, rotura do ligamento cruzado, protusão de disco intervertebral); 

-Alterações metabólicas (hiperlipidemia, insulinorresistencia—diabetes mellitus);

-Doenças do aparelho respiratório superior (colapso da traqueia, sindroma obstrutivo das vias aéreas superiores—atenção redobrada nos cães braquicefálicos);

-Neoplasias (tumores mamários e de tecido adiposo);

-Doenças cardiorrespiratórias (promovendo agravamento de insuficiência cardíaca congestiva e insuficiência pulmonar);

-Doenças do aparelho urinário (urolitíase, infeções urinarias);

-Agravamento de dermatites (aumento das “dobras” de pele com predisposição para proliferação bacteriana, dermatófitos, …);

-Aumento de risco anestésico;





Hoje em dia temos abordagens bastante seguras que garantem uma efetiva perda de peso sem sacrifícios, nem riscos para a saúde dos nossos animais de companhia. Recomendo consultar o veterinário assistente que irá avaliar e calcular o índice de condição corporal da mascote, projetando-lhe um peso ideal. De seguida fará um plano de emagrecimento seguro com adequada prescrição nutricional, regras para o seu cumprimento, estímulo à pratica de exercício proporcional à condição da mascote e fará o acompanhamento da curva de peso e respetiva avaliação clínica  (real perda de peso, índice de solicitação alimentar, manutenção da massa muscular,…).