terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Apetece mesmo ter uma mascote, mas...

É já do senso comum que ter um animal de companhia trás muitos benefícios! De facto, existem muitos estudos a comprovar que eles nos dão bem-estar geral:
Diminuem a nossa solidão e isolamento
  • Diminuem a nossa solidão e isolamento, sendo mesmo apelidados de “lubrificantes sociais” uma vez que promovem de forma bem espontânea a interação social;
Reduzem a ansiedade ajudando a relaxar
  • Reduzem a ansiedade ajudando a relaxar. Sabe-se que acariciar um cão ou um gato ritmicamente, para além de baixar a tensão arterial, pode também atuar como foco inconsciente de meditação;
São “terapeutas” silenciosos
  • São “terapeutas” silenciosos. Podemos desabafar com eles que nunca nos darão maus conselhos : );
São “personal treiners”
  • São “personal treiners”. “Obrigam-nos” a sair, caminhar, correr, saltar, brincar...;
São “enfermeiros”, “médicos”, “fisioterapeutas”
  • São “enfermeiros”, “médicos”, “fisioterapeutas”... Estudos revelaram que quem  sofre de doença cardíaca (tendo sido inclusivamente hospitalizado), tem oito vezes mais probabilidade de continuar vivo após um ano, se tiver um cão (acredito que funcione de igual modo com gatos, mas o estudo foi feito com cães). Também as pessoas que têm animais de estimação visitam menos vezes o seu médico;...
Ora com tantos benefícios, apetece mesmo adotar uma mascote! Sim, acho muito bem desde que estejamos conscientes de tal ato. A meu ver, é fundamental cumprirem-se dois requisitos:
1ºConhecer bem as especificidades do animal de estimação que pretendemos
Conhecer bem as especificidades do animal de estimação que pretendemos e se se adequa ao nosso perfil (ter um cão é diferente de ter um gato, um hamster, uma tartaruga ou um papagaio);
2ºEstar preparado para assumir a responsabilidade de cuidar
Estar preparado para assumir a responsabilidade de cuidar de acordo com o atual conhecimento sobre o que é ter um animal de companhia. Os animais não são coisas que agora nos apetecem e que amanhã se descartam. É obrigatório cuidar sempre! E nós, veterinários, estamos cá para ajudar.

Ter uma mascote é uma aventura de amor para a Vida!
 Dra. Isabel Maia
Médica Veterinária
Grupo HVV – Hospital Veterinário Viseu

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Festas mais felizes para todos! Dicas...

Pelo menos até termos as compras todas feitas e/ou os preparativos terminados para a Ceia de Natal e Passagem de Ano,  não descansamos e a azáfama é grande!

Com os nossos animais de companhia parece não acontecer nada... 

Errado!
É também uma altura delicada para eles, onde o stresse e a ansiedade podem ser muito elevados:
-Mudanças na decoração em casa (pinheiro de natal, presentes, luzes, presépio...);
-Rotinas e ambientes alterados (férias, viagens, idas para canis, gatis, hotéis, presença  ou ausência de familiares...);
-Barulhos súbitos e assustadores (fogo de artifício, músicas e conversas a altos volumes...);
-Locais habituais de passeio repentinamente alterados (iluminação natalícia, mais pessoas e animais, mais trânsito...);
-Isolamento em locais considerados  “não seguros” pelas mascotes, de modo a que visitantes se sintam mais tranquilos e também, os nossos animais de estimação estejam mais salvaguardados de interações com humanos, nem sempre feitas do melhor modo;
...
Com motivações, interpretações e manifestações diferentes, experimentamos todos emoções próprias desta época.

Aqui vão algumas dicas para ajudar os nossos animais de companhia e seus tutores, a viverem melhor  esta quadra festiva:

-Promova com antecedência a habituação ao local onde quer que a sua mascote se sinta segura em situações de stresse (visitas, fogo de artifício...);
-Se for de férias, informe-se detalhadamente sobre o local onde pretende deixar o seu companheiro;
-Use feromonoterapia, alimentos/suplementos para promover  relaxamento, assim como enriquecimento ambiental  adequado a cada espécie, raça e individuo;
- Acautele também acidentes evitando situações de risco como fios elétricos “apetecíveis”, alimentos perigosos para eles e fáceis de obter (chocolates, passas, bolos...), portas abertas...   

E agora, é tempo de aproveitar o que de melhor temos: 
- Os nossos amigos e familiares! Entre eles, é claro, os nossos animais de companhia.
Feliz Natal e um próspero Ano Novo...


 Dra. Isabel Maia
Médica Veterinária
Grupo HVV – Hospital Veterinário Viseu

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Gostar de animais e?/ou? de pessoas

Não pude ficar indiferente à polémica, a propósito do aumento das penas para os maus tratos a animais e a suposta sobrevalorização do animal...
Quando temos crianças com fome e refugiados a morrerem no Mediterrâneo, é absolutamente necessário priorizá-los sem com isso paralizarmos e  condenarmos tudo à volta... Acontece que falamos de nós, ser humano, na sua mais injusta e cruel vertente! Sim, não confundamos as coisas! Se puséssemos os olhos no comportamento animal, seja ele selvagem ou doméstico, ouviríamos a Natureza a falar e perceberíamos o quão errados nós andamos... 
Os animais são verdadeiros, puros, não têm maldade! 
Mais, “quem cuida bem dos animais geralmente é boa pessoa”, o contrário já tenho muitas dúvidas... E será que pelo facto de se gostar de animais e se cuidar bem deles já se retira espaço para fazer o mesmo pelas pessoas? Ou pelo contrário, não será isso um indicador de confiança, bom coração e porventura maior capacidade de ajudar o próximo?
Os bons princípios, as boas práticas, em suma, os valores morais têm de estar presentes de nós para nós e de nós para os outros, sejam eles animais, plantas, coisas, ... Um crime não deixa de o ser porque é praticado contra um ser indefeso! Na minha perspetiva, que admito ser suspeita, estes crimes são ainda mais graves e não me choca nada que aumentem as suas penas. No entanto, também não acho que seja pela via do medo que se mudam mentalidades. É preciso investir mais na formação/educação, nomeadamente ao nível das escolas, passando a mensagem da importância do respeito e cuidado por tudo e todos, em particular pelos animais.

Já dizia Mahatma Gandhi “A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que os seus animais são tratados”.
 Dra. Isabel Maia
Médica Veterinária
Grupo HVV – Hospital Veterinário Viseu

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Perceber melhor o gato

O gato é cada vez mais escolhido como o animal de companhia. Ao mesmo tempo noto um  grande desconhecimento acerca das suas especiais exigências, ao ponto de ficarem doentes.
Talvez fosse bom tentarmos perceber como este felino vê e sente o mundo de modo a irmos de encontro ao seu bem - estar. Esta perceção está intimamente ligada aos sentidos e à importância dos mesmos para a sua sobrevivência:
  • O paladar dos felinos é pouco desenvolvido, mas em contrapartida o olfato é muito mais apurado, o que faz com que o sabor da comida seja menos importante que o seu odor (em situações de perda de apetite, podemos aquecer o alimento até cerca dos 30ºC o que fará com que este liberte moléculas aromáticas tornando-o mais palatável). Como carnívoros estritos, respondem pouco ao doce, preferindo os sabores azedo, amargo e salgado;
  • Como caçador noturno que também é, a sua visão é muito apurada para o movimento e em ambientes com pouca luz (distingue menos cores do que nós, mas mais tons de cinzento). Na verdade, ele não precisa de saber se um alimento está maduro ou não, como nós (cor da fruta), mas fará toda a diferença captar o mais ténue movimento da sua presa. A retina felina não tem a acuidade da humana, mas capta muito melhor o movimento e a luz melhorando muito a sua visão noturna. De notar que o ato de caçar, muitas vezes associado por nós a brincar, faz parte do etograma (comportamentos característicos) do gato e é fundamental que o possa expressar para estar em equilíbrio. Em apartamento, podemos sempre recorrer a pequenos objetos (ex. brinquedos interativos) com capacidade de girarem e de preferência que recompensem a “caçada”, libertando pequenas porções de alimento, de modo a evitar que o gato fique frustrado, incentivando a “brincadeira” e deste modo o tão importante exercício físico;
  • Quanto à audição, a sensibilidade para sons graves é quase igual à nossa, enquanto para sons agudos é muito superior. Suponho que por vezes seja difícil para o gato comunicar connosco, uma vez que nós não ouvimos muitos dos sons a que ele reage e isto explica que também não entendamos muitos dos seus comportamentos, uma vez que não ouvimos o que ele consegue ouvir e interpreta…; 
  • O tato nos gatos é talvez o sentido mais difícil de estudar, no entanto sabe-se que têm preferências por determinadas texturas (ex. preferem  superfícies macias para descansarem) e possuem pelos táteis (vibrissas) na cabeça e nos membros dianteiros que lhes permitem auxiliar a visão (quando caçam, o ato de morder é despoletado pela ativação dos  pelos táteis em contacto com a presa). O gato é capaz de mapear tridimencionalmente um objeto apenas tateando-o com as suas vibrissas. Devemos evitar cortar os seus pelos táteis, pois podemos pôr em risco a locomoção do gato em ambientes com pouca luz;
  • O seu olfato é 30 vezes superior ao nosso, daí a comunicação através de marcação com odores ser muito desenvolvida. O gato tem necessidade de saber “as últimas notícias” cheirando. Muitas vezes pede-nos para abrir a porta, pondo apenas a cabeça de fora e voltando logo para dentro, deixando-nos sem saber afinal o que queria…

Para além de todas estas diferenças o gato é exigente na organização espacial do seu território. Gosta de zonas delimitadas e afastadas para dormir (sossegadas e altas), brincar, comer, beber (água fresca e em taças de vidro, loiça ou metal), defecar e urinar (caixotes de areia limpos e de “uso pessoal”), marcar (arranhadores adequados). Num apartamento não é fácil prover tudo isto, mas devemos respeitar afastamentos (por pequenos que sejam) pelo menos dos recursos mais importantes (água, comida, “wc” e zona de descanso).


Pensar que ter um gato como animal de companhia é mais calmo e menos exigente do que ter um cão, pode não corresponder bem à verdade…mas é de certeza verdade que quem pensar em ter um gato como animal de companhia, informando-se bem acerca das suas necessidades, e concretizar esse desejo, vai cada vez mais admirar este felino e atrevo-me mesmo a dizer, que se tal acontecer com quem não gosta de gatos, vai passar a gostar.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Curiosidades: Porque é que eles tanto se “lavam”?

O lamber, mordiscar e até o coçar a sua própria pele e pelagem (atos de grooming) fazem parte do comportamento normal do cão e do gato e ocupam grande parte do seu tempo diário ativo (tempo em que estão acordados). O que à primeira vista pode parecer algo com fins estéticos, é na realidade muito mais. Sabe-se que estes atos, na justa medida, contribuem para o bem – estar dos nossos animais de companhia uma vez que lhes:
- Diminuem o stress;
- Promovem a termorregulação, em particular nos gatos;
- Permitem remover detritos da superfície corporal, pelo “morto”, para além de eventuais ectoparasitas (pulgas, piolhos, carraças);
- Transmite defesas que reforçam a barreira cutânea. Sabe-se que sua  saliva tem propriedades antimicrobianas que são muito importantes numa primeira “desinfeção” de ferimentos. Por outro lado, essas propriedades não são suficientemente fortes para impedir que uma flora benéfica orogenital se difunda pela pele e pelagem dos filhotes, quando a progenitora os lambe no sentido de lhes estimular a micção e a defecação. Esta flora vai ter um papel muito importante no desenvolvimento da normal barreira cutânea;
- Dá mais “poder” de comunicação. 
Ao “alisarem” a pelagem insistentemente estão também a espalhar substâncias químicas (feromonas) produzidas em várias partes do seu corpo, que são fundamentais nas interações sociais entre mascotes; ...

Deixemos assim os nossos animais de companhia expressarem os seus comportamentos naturais, desde que não manifestem qualquer tipo de lesão associada. Já agora tenhamos muito cuidado com os produtos que utilizamos na ajuda à sua higiene. O risco de toxicidade é elevado! Devem ser produtos específicos para cada um, e o aconselhamento da frequência e modo de uso deve ser feito por um técnico devidamente acreditado.
 Dra. Isabel Maia
Médica Veterinária
Grupo HVV – Hospital Veterinário Viseu