sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Perceber melhor o gato

O gato é cada vez mais escolhido como o animal de companhia. Ao mesmo tempo noto um  grande desconhecimento acerca das suas especiais exigências, ao ponto de ficarem doentes.
Talvez fosse bom tentarmos perceber como este felino vê e sente o mundo de modo a irmos de encontro ao seu bem - estar. Esta perceção está intimamente ligada aos sentidos e à importância dos mesmos para a sua sobrevivência:
  • O paladar dos felinos é pouco desenvolvido, mas em contrapartida o olfato é muito mais apurado, o que faz com que o sabor da comida seja menos importante que o seu odor (em situações de perda de apetite, podemos aquecer o alimento até cerca dos 30ºC o que fará com que este liberte moléculas aromáticas tornando-o mais palatável). Como carnívoros estritos, respondem pouco ao doce, preferindo os sabores azedo, amargo e salgado;
  • Como caçador noturno que também é, a sua visão é muito apurada para o movimento e em ambientes com pouca luz (distingue menos cores do que nós, mas mais tons de cinzento). Na verdade, ele não precisa de saber se um alimento está maduro ou não, como nós (cor da fruta), mas fará toda a diferença captar o mais ténue movimento da sua presa. A retina felina não tem a acuidade da humana, mas capta muito melhor o movimento e a luz melhorando muito a sua visão noturna. De notar que o ato de caçar, muitas vezes associado por nós a brincar, faz parte do etograma (comportamentos característicos) do gato e é fundamental que o possa expressar para estar em equilíbrio. Em apartamento, podemos sempre recorrer a pequenos objetos (ex. brinquedos interativos) com capacidade de girarem e de preferência que recompensem a “caçada”, libertando pequenas porções de alimento, de modo a evitar que o gato fique frustrado, incentivando a “brincadeira” e deste modo o tão importante exercício físico;
  • Quanto à audição, a sensibilidade para sons graves é quase igual à nossa, enquanto para sons agudos é muito superior. Suponho que por vezes seja difícil para o gato comunicar connosco, uma vez que nós não ouvimos muitos dos sons a que ele reage e isto explica que também não entendamos muitos dos seus comportamentos, uma vez que não ouvimos o que ele consegue ouvir e interpreta…; 
  • O tato nos gatos é talvez o sentido mais difícil de estudar, no entanto sabe-se que têm preferências por determinadas texturas (ex. preferem  superfícies macias para descansarem) e possuem pelos táteis (vibrissas) na cabeça e nos membros dianteiros que lhes permitem auxiliar a visão (quando caçam, o ato de morder é despoletado pela ativação dos  pelos táteis em contacto com a presa). O gato é capaz de mapear tridimencionalmente um objeto apenas tateando-o com as suas vibrissas. Devemos evitar cortar os seus pelos táteis, pois podemos pôr em risco a locomoção do gato em ambientes com pouca luz;
  • O seu olfato é 30 vezes superior ao nosso, daí a comunicação através de marcação com odores ser muito desenvolvida. O gato tem necessidade de saber “as últimas notícias” cheirando. Muitas vezes pede-nos para abrir a porta, pondo apenas a cabeça de fora e voltando logo para dentro, deixando-nos sem saber afinal o que queria…

Para além de todas estas diferenças o gato é exigente na organização espacial do seu território. Gosta de zonas delimitadas e afastadas para dormir (sossegadas e altas), brincar, comer, beber (água fresca e em taças de vidro, loiça ou metal), defecar e urinar (caixotes de areia limpos e de “uso pessoal”), marcar (arranhadores adequados). Num apartamento não é fácil prover tudo isto, mas devemos respeitar afastamentos (por pequenos que sejam) pelo menos dos recursos mais importantes (água, comida, “wc” e zona de descanso).


Pensar que ter um gato como animal de companhia é mais calmo e menos exigente do que ter um cão, pode não corresponder bem à verdade…mas é de certeza verdade que quem pensar em ter um gato como animal de companhia, informando-se bem acerca das suas necessidades, e concretizar esse desejo, vai cada vez mais admirar este felino e atrevo-me mesmo a dizer, que se tal acontecer com quem não gosta de gatos, vai passar a gostar.

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