domingo, 15 de março de 2020

Preparar a mascote para a primavera, 8 conselhos



As alterações climáticas (a primavera chega cada vez mais cedo…) a par da mudança de hábitos no que toca à maior proximidade com os animais de companhia, fazem com que os cuidados de medicina preventiva se vão adaptando às novas realidades e sejam cada vez mais exigentes.

Eis alguns conselhos:

1.Atualize as desparasitações (interna e externa), de acordo com o estilo de vida do seu animal de companhia, zona geográfica onde reside e recomendações do veterinário;

2.Verifique se tem as vacinas em dia. No caso do cão recomendo vivamente proteção contra a leishmaniose, a par do habitual e obrigatório programa de vacinação. O melhor será informar-se das diferentes opções junto do seu veterinário;

3.Evite passeios junto a zonas com pinheiros e cedros, onde é mais provável encontrar um inseto, conhecido vulgarmente como lagarta do pinheiro ou processionária (nome atribuído por se deslocar em fila/procissão) e que é altamente tóxico;

4.Cuidado com os períodos prolongados dentro de carros, mesmo que à sombra! O risco de golpe de calor aumenta substancialmente na época mais quente;

5.Tão importante como ter um bom alimento é disponibilizar água fresca diariamente e incentivar o seu consumo;

6.Se o seu animal de companhia tem uma pelagem densa com sub pelo (aquele pelo fininho que se solta em tufos quando chega a primavera), deve escová-lo com mais regularidade, sendo que em alguns casos pode beneficiar com tratamento de grooming mais completo num profissional dedicado;

7.Por vezes nesta altura também surgem problemas de foro alérgico. É importante estar atento aos primeiros sinais, (comichão, vermelhidão, faltas de pelo) e procurar ajuda no veterinário. Existem várias abordagens que numa fase inicial podem passar por correção alimentar, suplementação, banhos terapêuticos, antipruriginosos, uso de correta e mais eficaz desparasitação, etc;

8.Com passeios mais regulares (o bom tempo convida), tornam-se ainda mais importantes o civismo e a boa educação: obrigatório andar à trela e limpeza escrupulosa dos dejetos (andar sempre com saquinhos nos bolsos).

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O que não é compatível com bem-estar animal


Para que deixe de existir inconsciência sobre o que sentem os animais e o que é preciso para terem qualidade de vida, é importante ter presente o que os cientistas dizem. 

Divulgada pelo Farm Animal Welfare Council, a teoria das cinco liberdades dos animais criada pelo Prof John Webster vem dizer que todos os animais devem estar livres de:

-Fome e sede;
-Desconforto;
-Dor, lesões ou doenças;
-Impedimentos para expressar comportamentos naturais;
-Medo ou aflição.

Talvez seja mais fácil e imediato percecionar as três primeiras liberdades, mas se tivermos presente que está cientificamente provado que todas as espécies de mamíferos superiores sentem emoções, por mais ou menos básicas que sejam, tornam-se quase óbvias as duas últimas liberdades.

E quais são as emoções que os nossos animais de companhia podem sentir?

-Prazer ou bem-estar (percecionam estímulos agradáveis);
-Excitação (agitação psicomotora ou sexual);
-Sobressalto (comportamento em resposta a algo inesperado e repentino);
-Frustração (sempre que não conseguem algo que pretendiam);
-Medo (resposta perante uma ameaça);
-Aversão (emoção perante algo desagradável);
-Irritação ou ira (que se manifesta por agressão, seja por postura, vocalização, ou mesmo dano físico);
-Sofrimento (que pode aparecer devido a dor física ou emocional).


Muito se tem evoluído nesta área do conhecimento mas, infelizmente, parece continuar a ser necessário que lembremos estes conceitos…

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Animal de companhia e o dia de S. Valentim…


As justificações tidas como únicas de ter um “cão para guarda”, ou um “gato para caçar ratos”, deixaram de fazer sentido numa sociedade com serviços de proteção e defesa instituídos e cujo padrão higiossanitário descartou há muito pragas de outrora… No entanto surgem, para além da nossa vontade ou até motivando-a, novas “funcionalidades” do animal de companhia.

A dependência cada vez maior das tecnologias, com um mundo virtual a apoderar-se de nós, que vivemos a ritmo intenso, faz crescer, nem que seja subconscientemente, a necessidade de afetos e contacto com a natureza. 

A “falta de tempo” para a construção de relacionamentos entre humanos e porque a complexidade destes parece exponenciar-se quando interagem (porventura associada à perda de habilidades de socialização), parece potenciar o “uso” do animal de companhia como “carregador de baterias de afetos”, ou uma espécie de “efeito de dia de S. Valentim”. Nada contra, desde que o respeitemos e percebamos que também precisa de “guardar” e “caçar”… Quero com isto dizer que é importante, para além de amor e carinho, que o deixemos expressar comportamentos naturais e característicos de cada espécie. Obviamente que não precisamos de o incentivar a ladrar a estranhos e que poder brincar correndo atrás de objetos, adequados, pode muito bem simular uma caçada e satisfazer a manifestação de um comportamento inato predatório.
Por outro lado, deixarmos fazer tudo o que apetece ao animal de companhia sem lhe indicarmos uma rotina, um padrão de comportamentos a apresentar em sociedade, ou pensar que saber interagir connosco é suficiente, pode representar um risco para ele e para quem se cruze no seu caminho.


Insisto no valor afetivo do animal de companhia no lar e nos muitos benefícios que nos pode trazer! No entanto é necessário respeito e conhecimento das suas necessidades específicas para podermos ter uma relação entre humanos e animais cada vez mais benéfica. Assim, em particular para quem vive em sociedade, é fundamental a educação com muito treino… 

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Coronavirus… A importância de uma só saúde


Com a certeza de um esforço sério no rápido controlo da doença provocada por este coronavirus, é importante evidenciar a higiene e os cuidados de saúde que devem ser transversais a todos os seres vivos. 
A dependência uns dos outros é cada vez mais notória, arriscando dizer que talvez dependamos mais nós dos outros animais do que eles de nós… Se não os cuidarmos não nos cuidamos!

As condições higiossanitárias muito deficientes em que pessoas e animais vivem em muitos locais do planeta, predispõem ao aparecimento de doenças, nomeadamente aquelas que resultam de quebras na “barreira animal”, passando a zoonoses (doenças que se transmitem dos animais ao homem). 
Quando falha o respeito por normas tão básicas como medidas de higiene e desinfeção, para não falar em programas de vacinação e desparasitação, não é difícil prever o aparecimento e disseminação de doenças como esta que surgiu na cidade de Wuhan na China.
Das vezes que visitei aquele país, fiquei impressionada com os mercados, nomeadamente com o tipo de produtos e animais expostos para consumo humano e seus duvidosos acondicionamentos…  

Felizmente para ocidente, nomeadamente no nosso país, a exigência é bem diferente. Desde programas de profilaxia animal até redes de fiscalização higiossanitária, todos funcionam de modo a contribuir seguramente para uma única e melhor saúde.
No que toca ao mundo dos animais de companhia, que partilham cada vez mais os nossos lares, impõe-se como prioritária a medicina preventiva de modo a promover a saúde e bem-estar de todos. 

O rigoroso cumprimento dos mais atualizados e completos protocolos de vacinação e desparasitação, assim como a seleção do melhor regime alimentar, cuidados de grooming, todos associados ao bom maneio ambiental e adequadas práticas de educação e treino, respeitando o padrão comportamental característico de cada espécie, tornam muito mais seguras e benéficas as cada vez mais estreitas relações intra e interespécie, promovendo a saúde num todo!  

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Será o animal de companhia um filho?


Vemos cada vez mais, no dia a dia clínico, famílias que optam por um animal de companhia a pedido do filho e que chegam a admitir que é o irmão que não lhe podem dar… ou que, não tendo filhos, adquirem animais tratando-os como filhos.
Penso não vir daqui nenhum mal ao mundo, se as necessidades de cada um forem respeitadas, nomeadamente as dos animais de companhia. É preciso ter noção que estes precisam de cuidados específicos, com regras e  ritmos próprios, sendo fundamental para o seu desenvolvimento equilibrado poderem expressar comportamentos próprios da espécie. Estes comportamentos são de tal maneira relevantes, que até fazem parte dos caracteres de classificação da espécie como tal. Não basta assim, sabermos que têm uma alimentação diferente da nossa, programas de desparasitação e vacinação próprios, cuidados de grooming, educação e treino de acordo não só com a espécie mas também com a raça, temperamento/caráter… É mesmo muito importante sabermos o etograma (repertórios comportamentais, ou comportamentos típicos) de cada animal que escolhemos para nos acompanhar. 
O aumento de patologias relacionadas com o que escrevi é notório e vão desde obesidade, doenças da cavidade oral, diabetes, gastroenterites, dermatites, cistites, … até a problemas comportamentais como ansiedades, fobias, agressividades, etc.

O ideal seria que antes de adotarmos o nosso animal de companhia, fizéssemos uma consulta ao veterinário no sentido de percebermos qual a espécie, raça, que melhor se adequa ao nosso estilo de vida e quais as reais necessidades e cuidados que exigirá.


Na minha opinião vejo os animais de companhia como um elemento da família que a completa, com identidade e comportamentos próprios a respeitar. Pode ser um “filho”, mas sempre diferente e especial!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Animais de companhia cada vez mais presentes...

Para quem tem animais ou simplesmente gosta, vemo-nos muitas vezes a incluí-los nos nossos anseios de Ano Novo: 

-Vamos finalmente adquirir aquele animal de companhia com que sonhamos;
-Para quem já tem, vamos fazer-lhe um check up de saúde mais completo, ou reforçar o plano vacinal contra aquelas doenças que até agora ainda não tivemos oportunidade de fazer; 
-Vai ser este ano que vamos controlar o seu peso e pô-lo no índice de condição corporal desejado; 
-Chegou finalmente a altura de tomar coragem e pedir ajuda para melhorar o comportamento da mascote; 
-Enfim, tanta coisa que podemos fazer melhor…

Ano após ano verificamos um aumento, na nossa prática clínica, do que acabei de escrever. 

Há cada vez mais pessoas a pedirem melhores cuidados, sendo cada vez mais exigentes e por vezes até um pouco extravagantes, eu diria mesmo, que tentam cada vez mais antropomorfizar os seus animais de companhia e aqui é preciso muito cuidado, pois podemos por em causa o seu bem-estar a ponto de lhes causar doenças! Um exemplo é a transposição da nossa dieta (somos omnívoros) para a dieta dos animais de companhia, sendo eles (cão e gato são os mais representativos) maioritariamente carnívoros e veja-se o absurdo, já há quem tente até que passem a vegetarianos! Outra situação relativamente frequente é a aplicação dos nossos valores de justiça na educação dos animais, com todos os desajustamentos que tais práticas possam causar, induzindo estados de ansiedade que podem escalar até à agressividade! Passo a exemplificar: sempre que temos um conflito entre animais debaixo do mesmo teto tendemos a repreender o dominante perante determinada situação e não deixamos que se entendam de forma natural (tendencialmente o mais forte naquele contexto irá impor ao outro a sua vontade de forma natural e assim se mantêm harmoniosamente os seus relacionamentos, sem nenhum “complexo de inferioridade ou superioridade de parte a parte”…). 


Muitos mais exemplos poderia dar mas o espaço de escrita é curto, assim, para concluir, deixo o desejo do respeito pela Natureza e seus equilíbrios, pois só desta forma poderemos coabitar todos em harmonia, nomeadamente com os nossos muito queridos animais de companhia!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Esterilizar?

Dada a polémica instalada num recente programa de televisão, decidi re-editar a minha opinião sobre o assunto:

Deixar fluir a natureza talvez fosse o ideal, mas nós interferimos há muito…

A partir do momento em que colocámos animais a fazer-nos companhia, alterámos as regras. Quero com isto dizer que os tornámos dependentes de nós e nós também cada vez mais deles. 

Com a domesticação ao longo de milhares de anos fomos “abafando” comportamentos de sobrevivência em particular no cão, mas também em muitas raças de gatos que diminuíram em muito, por exemplo, as suas capacidades predatórias.

O risco de termos animais de companhia abandonados (com a nova legislação, pelos vistos, é maior…) ainda por cima não esterilizados é uma bomba relógio, pois o potencial de multiplicação desajustado aos recursos e competências de sobrevivência é enorme!

Por outro lado, o simples facto de tomarmos conhecimento sobre as suas reais necessidades, ao mesmo tempo que descobrimos mais sobre o que melhora a sua vida, confere-nos maior responsabilidade.

É sabido, por exemplo, que a esterilização prolonga a vida (previne muitas doenças e comportamentos de risco), mas também contribui para o bem-estar do animal de companhia que vivendo, muitas vezes apenas connosco, sem possibilidade de expressar por completo o seu comportamento sexual, pode desenvolver ansiedade e até tornar-se agressivo.

Convém também equacionarmos se, vivendo já grande parte das mascotes em apartamento bem junto a nós, estaremos preparados para comportamentos de manifestação de cio (por parte de fêmeas não esterilizadas) ou resposta a este (por parte de machos não castrados), como sejam vocalizações mais exuberantes, marcação territorial, perdas de fluidos sanguinolentos, etc ?
Não me parece que a resposta seja consensual, pelo menos por parte de todos os inquilinos do prédio…


Ah, e não pensemos que os animais esterilizados ficam tristes, ou com algum problema comportamental por não deixarem descendência. Eles apenas respondem à sua atividade hormonal, não fazendo esse tipo de conjeturas. Há apenas alguns casos, em que a esterilização pode não ser de imediato recomendada (importante fazer consulta pré cirúrgica com médico veterinário).