Por muito que seja questionável, esta é já uma realidade muito presente também entre nós e de forma bem nuclear : “famílias multiespécie”.
Estudos revelam que cerca de 50% dos lares portugueses possuem, pelo menos, um animal de estimação e que mesmo em tempos de crise os Portugueses continuam a manter uma estreita relação com as suas mascotes.
Esta realidade aponta para uma nova forma de estar em sociedade. Não podemos ignorar o que é real e tem de facto impacto no nosso dia a dia, quer seja em termos de relacionamentos/afetividades, quer seja mesmo em termos económicos.
O mundo do animal de companhia movimenta “milhões” e afeta económico/socialmente outros “milhões”. Desde a industria alimentar animal, aos grandes laboratórios farmacêuticos e seus centros de investigação, passando pela industria ligada aos mais diversos artigos de petshop, e incluindo o ensino e prática em saúde e bem-estar animal, arriscamo-nos a perder a conta aos múltiplos postos de trabalho criados, assim como ao encadeamento de interesses, motivações e emoções que envolvem todo este maravilhoso e estimulante mundo do animal de companhia.
Temos na atualidade a assunção do milenar vínculo Homem/Animal. Não esqueçamos que mais uma vez estudos evidenciam a ligação entre a história evolutiva do Homem com a domesticação sobretudo do cão e do gato, e apontam para a importância da associação Homem/Animal de Companhia, como tendo impacto muito direto na saúde e bem-estar do Homem.
Voltando à constituição das nossas famílias, verificamos que a presença do animal de companhia é transversal à diversidade dos lares da atualidade. Temos animais de estimação em núcleos familiares clássicos de pai, mãe e filho/s; em famílias monoparentais; em famílias cujo/s único/s elemento/s é/são o/s idoso/s; em lares de jovens no começo de vida em que a perspetiva de filhos é cada vez mais adiada, ou mesmo posta de lado; e também os animais de companhia estão cada vez mais presentes entre indivíduos do mesmo sexo que decidem partilhar as suas vidas juntos.
Em suma, quer se goste ou não, temos de aceitar esta realidade e procurar implementar novas regras para uma sã convivência interespécie, apostando no essencial e básico para quem quer uma sociedade mais equilibrada e respeitadora dos direitos de todos e de cada um. Essa aposta passa sem dúvida pelo acesso a uma boa e estruturada informação a que nós humanos chamamos vulgarmente de Educação e que achamos fundamental para a construção de uma sociedade evoluída e feliz. Só temos de estender este conceito educacional a todos os atuais intervenientes na nossa sociedade multiespécie.
É urgente educar bem os nossos animais de companhia e isso passa sem dúvida por educar melhor o Homem.
Dra. Isabel Maia
Médica Veterinária
Grupo HVV – Hospital Veterinário Viseu
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