sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Coronavirus… A importância de uma só saúde


Com a certeza de um esforço sério no rápido controlo da doença provocada por este coronavirus, é importante evidenciar a higiene e os cuidados de saúde que devem ser transversais a todos os seres vivos. 
A dependência uns dos outros é cada vez mais notória, arriscando dizer que talvez dependamos mais nós dos outros animais do que eles de nós… Se não os cuidarmos não nos cuidamos!

As condições higiossanitárias muito deficientes em que pessoas e animais vivem em muitos locais do planeta, predispõem ao aparecimento de doenças, nomeadamente aquelas que resultam de quebras na “barreira animal”, passando a zoonoses (doenças que se transmitem dos animais ao homem). 
Quando falha o respeito por normas tão básicas como medidas de higiene e desinfeção, para não falar em programas de vacinação e desparasitação, não é difícil prever o aparecimento e disseminação de doenças como esta que surgiu na cidade de Wuhan na China.
Das vezes que visitei aquele país, fiquei impressionada com os mercados, nomeadamente com o tipo de produtos e animais expostos para consumo humano e seus duvidosos acondicionamentos…  

Felizmente para ocidente, nomeadamente no nosso país, a exigência é bem diferente. Desde programas de profilaxia animal até redes de fiscalização higiossanitária, todos funcionam de modo a contribuir seguramente para uma única e melhor saúde.
No que toca ao mundo dos animais de companhia, que partilham cada vez mais os nossos lares, impõe-se como prioritária a medicina preventiva de modo a promover a saúde e bem-estar de todos. 

O rigoroso cumprimento dos mais atualizados e completos protocolos de vacinação e desparasitação, assim como a seleção do melhor regime alimentar, cuidados de grooming, todos associados ao bom maneio ambiental e adequadas práticas de educação e treino, respeitando o padrão comportamental característico de cada espécie, tornam muito mais seguras e benéficas as cada vez mais estreitas relações intra e interespécie, promovendo a saúde num todo!  

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Será o animal de companhia um filho?


Vemos cada vez mais, no dia a dia clínico, famílias que optam por um animal de companhia a pedido do filho e que chegam a admitir que é o irmão que não lhe podem dar… ou que, não tendo filhos, adquirem animais tratando-os como filhos.
Penso não vir daqui nenhum mal ao mundo, se as necessidades de cada um forem respeitadas, nomeadamente as dos animais de companhia. É preciso ter noção que estes precisam de cuidados específicos, com regras e  ritmos próprios, sendo fundamental para o seu desenvolvimento equilibrado poderem expressar comportamentos próprios da espécie. Estes comportamentos são de tal maneira relevantes, que até fazem parte dos caracteres de classificação da espécie como tal. Não basta assim, sabermos que têm uma alimentação diferente da nossa, programas de desparasitação e vacinação próprios, cuidados de grooming, educação e treino de acordo não só com a espécie mas também com a raça, temperamento/caráter… É mesmo muito importante sabermos o etograma (repertórios comportamentais, ou comportamentos típicos) de cada animal que escolhemos para nos acompanhar. 
O aumento de patologias relacionadas com o que escrevi é notório e vão desde obesidade, doenças da cavidade oral, diabetes, gastroenterites, dermatites, cistites, … até a problemas comportamentais como ansiedades, fobias, agressividades, etc.

O ideal seria que antes de adotarmos o nosso animal de companhia, fizéssemos uma consulta ao veterinário no sentido de percebermos qual a espécie, raça, que melhor se adequa ao nosso estilo de vida e quais as reais necessidades e cuidados que exigirá.


Na minha opinião vejo os animais de companhia como um elemento da família que a completa, com identidade e comportamentos próprios a respeitar. Pode ser um “filho”, mas sempre diferente e especial!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Animais de companhia cada vez mais presentes...

Para quem tem animais ou simplesmente gosta, vemo-nos muitas vezes a incluí-los nos nossos anseios de Ano Novo: 

-Vamos finalmente adquirir aquele animal de companhia com que sonhamos;
-Para quem já tem, vamos fazer-lhe um check up de saúde mais completo, ou reforçar o plano vacinal contra aquelas doenças que até agora ainda não tivemos oportunidade de fazer; 
-Vai ser este ano que vamos controlar o seu peso e pô-lo no índice de condição corporal desejado; 
-Chegou finalmente a altura de tomar coragem e pedir ajuda para melhorar o comportamento da mascote; 
-Enfim, tanta coisa que podemos fazer melhor…

Ano após ano verificamos um aumento, na nossa prática clínica, do que acabei de escrever. 

Há cada vez mais pessoas a pedirem melhores cuidados, sendo cada vez mais exigentes e por vezes até um pouco extravagantes, eu diria mesmo, que tentam cada vez mais antropomorfizar os seus animais de companhia e aqui é preciso muito cuidado, pois podemos por em causa o seu bem-estar a ponto de lhes causar doenças! Um exemplo é a transposição da nossa dieta (somos omnívoros) para a dieta dos animais de companhia, sendo eles (cão e gato são os mais representativos) maioritariamente carnívoros e veja-se o absurdo, já há quem tente até que passem a vegetarianos! Outra situação relativamente frequente é a aplicação dos nossos valores de justiça na educação dos animais, com todos os desajustamentos que tais práticas possam causar, induzindo estados de ansiedade que podem escalar até à agressividade! Passo a exemplificar: sempre que temos um conflito entre animais debaixo do mesmo teto tendemos a repreender o dominante perante determinada situação e não deixamos que se entendam de forma natural (tendencialmente o mais forte naquele contexto irá impor ao outro a sua vontade de forma natural e assim se mantêm harmoniosamente os seus relacionamentos, sem nenhum “complexo de inferioridade ou superioridade de parte a parte”…). 


Muitos mais exemplos poderia dar mas o espaço de escrita é curto, assim, para concluir, deixo o desejo do respeito pela Natureza e seus equilíbrios, pois só desta forma poderemos coabitar todos em harmonia, nomeadamente com os nossos muito queridos animais de companhia!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Esterilizar?

Dada a polémica instalada num recente programa de televisão, decidi re-editar a minha opinião sobre o assunto:

Deixar fluir a natureza talvez fosse o ideal, mas nós interferimos há muito…

A partir do momento em que colocámos animais a fazer-nos companhia, alterámos as regras. Quero com isto dizer que os tornámos dependentes de nós e nós também cada vez mais deles. 

Com a domesticação ao longo de milhares de anos fomos “abafando” comportamentos de sobrevivência em particular no cão, mas também em muitas raças de gatos que diminuíram em muito, por exemplo, as suas capacidades predatórias.

O risco de termos animais de companhia abandonados (com a nova legislação, pelos vistos, é maior…) ainda por cima não esterilizados é uma bomba relógio, pois o potencial de multiplicação desajustado aos recursos e competências de sobrevivência é enorme!

Por outro lado, o simples facto de tomarmos conhecimento sobre as suas reais necessidades, ao mesmo tempo que descobrimos mais sobre o que melhora a sua vida, confere-nos maior responsabilidade.

É sabido, por exemplo, que a esterilização prolonga a vida (previne muitas doenças e comportamentos de risco), mas também contribui para o bem-estar do animal de companhia que vivendo, muitas vezes apenas connosco, sem possibilidade de expressar por completo o seu comportamento sexual, pode desenvolver ansiedade e até tornar-se agressivo.

Convém também equacionarmos se, vivendo já grande parte das mascotes em apartamento bem junto a nós, estaremos preparados para comportamentos de manifestação de cio (por parte de fêmeas não esterilizadas) ou resposta a este (por parte de machos não castrados), como sejam vocalizações mais exuberantes, marcação territorial, perdas de fluidos sanguinolentos, etc ?
Não me parece que a resposta seja consensual, pelo menos por parte de todos os inquilinos do prédio…


Ah, e não pensemos que os animais esterilizados ficam tristes, ou com algum problema comportamental por não deixarem descendência. Eles apenas respondem à sua atividade hormonal, não fazendo esse tipo de conjeturas. Há apenas alguns casos, em que a esterilização pode não ser de imediato recomendada (importante fazer consulta pré cirúrgica com médico veterinário).

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Animal de companhia na família, vantagens


São já muitos os estudos que nos referem benefícios resultantes do convívio com animais de companhia.Temos o privilégio de os percecionar diariamente na nossa atividade e nunca é demais enumerá-los: 

-Ajuda no desenvolvimento mais responsável e feliz das crianças;
-Combate à solidão, em particular nos mais idosos;
-Promoção de um estilo de vida mais saudável, em especial para quem vive em apartamento.“Obriga-nos” a mais saídas e contacto com a natureza, assim como mais exercício;
-Mais momentos de relaxamento e abstração dos problemas do dia a dia. Há sempre quem nos receba feliz no regresso a casa;
-Promotor de interação social. Quem resiste a um sorriso e até interagir, quando presencia brincadeiras, ou se cruza com aquela mascote bem disposta e comunicativa?;
Mais poderia referir, mas o importante é mesmo a relação de amor que se estabelece e fortalece os laços familiares.
Nos dias que correm, em que o mundo virtual vai tomando conta das relações entre as pessoas, o animal de companhia pode ser o elo de ligação aos afetos e trazer-nos de volta o calor das verdadeiras amizades.

Não deixo, no entanto, de referir que para que tudo isto funcione é necessário termos a noção que ter um animal de companhia não é uma coisa que possamos descartar mais tarde. Convém ter presente que vai exigir de nós tempo, espaço, disponibilidades financeiras, tolerância, sacrifícios, e sobretudo muita dedicação. 

Como estamos a chegar ao Natal e sabemos que esta altura é por natureza propícia à realização de sonhos, apenas peço que se ponderem todos os prós e contras, se o desejo for um animal de companhia…
Já agora e não me canso de o referir, informe-se sobre a espécie e, se for o caso, também a raça, onde será melhor adquirir (criador? centros de acolhimento/recolha?, etc), cuidados médico veterinários, obrigatoriedades legais, onde deixar quando sair (férias, situação de ausência por doença ou outros motivos), etc. 

Se tudo se conjugar, que venha de lá essa mascote cheia de saúde e que as alegrias sejam muitas!

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Registo de animais de companhia…Dúvidas?


Desde que têm vindo a público notícias sobre o que mudou a partir de 25 de outubro de 2019 no que respeita à identificação e registo dos animais de companhia, que a confusão é muita!

Para ajudar a esclarecer aqui fica um contributo:

-Todos os animais que já estavam identificados com microchip apenas tiveram uma passagem administrativa do seu registo para a nova base de dados que se designa por SIAC (Sistema de Informação de Animais de Companhia);

-Cães nascidos antes de 1 de julho de 2008 e que não eram obrigados a ter microchip, o prazo para a colocação deste é de 1 ano a partir de 25/10/2019;

-Gatos e furões nascidos antes de 25/10/2019 o prazo para aplicação do microchip é de 3 anos a partir da data acima referida;

-Animais com microchip, que por alguma falha de conclusão do processo, não se encontram registados, ou não aparecem na nova plataforma SIAC, o prazo máximo para fazer o registo é de 1 ano (a partir de 25/10/2019) sendo que num ato médico veterinário obrigatório como por exemplo uma vacinação antirrábica, tal registo é imperativo e deve ser feito de imediato;

-Cães, gatos e furões nascidos depois de 25/10/2019, têm de ser identificados com microchip (e obviamente registados) até aos 4 meses de idade;

-Deixa de ser necessário o registo dos animais de companhia nas juntas de freguesia (exceto cães perigosos ou potencialmente perigosos); 

-O custo do registo para o tutor/proprietário não são 2,5€, como tem aparecido em muita comunicação social. Tal custo é apenas uma pequena parcela do valor total (que é variável), representando unicamente o valor que a plataforma SIAC cobra ao médico veterinário pelo “alojamento” da informação relativa a cada animal de companhia.
 Já agora, não existe registo no SIAC sem a aplicação de microchip por um médico veterinário (custo do equipamento e honorários têm de ser contabilizados, como até aqui sempre foram). 
Qualquer registo isolado (quando já tinha microchip mas, por falhas, não estava registado) obviamente que também tem de contar com os custos operacionais (recursos humanos diferenciados, acesso ao SIAC e custo do alojamento da informação).

Na dúvida recomendo visita ao médico veterinário e já agora, dizer que não se sabe, não pode ser desculpa, pois as multas podem ser pesadas… 

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Comportamento animal. Pedidos de ajuda a aumentar!


Começamos por sonhar com a mascote que nos irá acompanhar…
Já sabemos que precisa de vacinas, desparasitação, boa alimentação, etc, mas continuamos a descurar aspetos fundamentais para o seu desenvolvimento equilibrado e saudável. 
Muitas vezes, apenas ponderamos alguma disponibilidade financeira e um pouco de espaço para, finalmente, irmos buscar aquela bolinha de pelo tão desejada!

Será que é a espécie que melhor se adequa a nós?

Ou a raça mais equilibrada para as nossas rotinas e feitio?

Ou ainda, será que temos informação suficiente para cuidar devidamente, nomeadamente no que toca ao comportamento animal?

São cada vez mais os pedidos de ajuda na área da medicina comportamental. Muitos casos começam por ser engraçados para os tutores mas com o passar do tempo vão evoluindo para verdadeiros problemas. 
Um exemplo é a ansiedade por separação em cães, com queixas dos vizinhos e até idas da polícia a casa. Outra situação é a escalada dos sinais de agressividade até ao ataque com mordida! Ou ainda a intolerância a outros animais, carros, pessoas a correr, etc o que dificulta passeios e toda uma vida social que gostaríamos usufruir com a mascote bem comportada. 
Vão surgindo novos problemas de comportamento, à medida que as relações com humanos se vão estreitando. A antropomorfização da mascote que vive connosco é quase inevitável. Assim, transpor para ela necessidades que são nossas ou, pelo contrário, não conhecer o seu etograma (padrão de comportamentos característicos de cada espécie), influenciam negativamente o seu bem-estar.
É cada vez mais importante termos o máximo de informação acerca da espécie, raça, ou simplesmente da proveniência e início de vida do animal de companhia a eleger. Depois, na chegada a casa (idealmente por volta dos 2 meses de idade) até somos parecidos: há que ir à escola… aproveitando o período “esponja” de aprendizagem nesta fase de  socialização e frequentar Puppy Classes para os cachorros e Kitten Classes para os gatinhos. 
Seguidamente, um treino de obediência básico em todos os cães é importantíssimo.

Insisto numa boa educação e treino durante toda a vida, de modo a manter o bem - estar de todos.